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quinta-feira, 12 de abril de 2012

12. CURIOSIDADES DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/setembro/dia-da-musica-popular-brasileira-8.php

Curiosidades da Música Popular Brasileira

A primeira gravação elétrica no Brasil foi em 1927, feita na gravadora Odeon por Francisco Alves.
A primeira composição em versos brancos (sem rima), considerada pelos pesquisadores é “Súplica”, de José Marcílio, Otávio Gabus Mendes e Déo, gravada por Orlando Silva: “Aço frio de um punhal foi seu amor pra mim/ Não crendo na verdade implorei, pedi/ As súplicas morrerão sem eco, em vão/ Batendo nas paredes frias do apartamento”.
Caboré foi um crioulinho que ensinou Orson Wells a tocar caixa de fósforos quando o famoso cineasta esteve no Brasil.
O primeiro “jingle” (anúncio musicado) foi lançado no rádio em 1932, feito por Nássara, para a Padaria Bragança.
Garota de Ipanema é a décima-Segunda música mais tocada no mundo dos Últimos cinqüenta anos. “Deixa isso para lá” que lançou Jair Rodrigues para o sucesso foi recusado por Simonal, que não gostava de samba.
O primeiro brasileiro a gravar na Europa foi Josué de Barros, o descobridor de Carmem Miranda, na Alemanha, solo de violão. Alguns compositores que também eram médicos: Max Nunes (Bandeira Branca), Joubert de Carvalho (Taí, Maringá), Alberto Ribeiro (Copacabana, Chiquita Bacana), Dalton (Muito Estranho), Aldyr Blanc (O bêbado e o equilibrista).
“Ponteiro” consagrou Edu Lobo na Voz de Marília Medalha. O autor no entanto não fazia nenhuma fé na cantora.
A consagração é um ponto de interrogação

O caminho do sucesso é uma caixinha de surpresas. É quase um exercício de ocultismo tentar entender o que leva o povo a consagrar uma canção.
A história da Música Popular está recheada de êxitos imprevisíveis. Este artigo conta um deles. A música, feita sem maiores pretensões, recusada pelos cantores da época, desancada pelo críticos, na qual os próprio autores não acreditavam, acabou se tornando conhecida mundialmente – só nos Estados Unidos são mais de vinte gravações – e permanece entre as que mais arrecadem no Carnaval ano após ano.
Isso tudo aconteceu com a marchinha Mamãe eu Quero que, em 81, foi novamente absoluta, só sendo incomodada pela indigente Maria Sapatão. Em 82 confirmou-se seu lugar cativo entre as campeãs de arrecadação. Os autores: Jararaca, alagoano nascido José Luiz Rodrigues Calazans, que formou com Ratinho a mais antiga dupla sertaneja do Brasil, que mesmo ante de surgir o rádio, já era conhecida em todos os cantos do país. Seu parceiro: Vicente Paiva, maestro paulista, autor de Olhos Verdes
São da cor do céu
Da cor da mata
Os olhos verdes da mulata
Tão cismadores e fatais
que Gal Costa redescobriu.
O Carnaval de 1937 tinha previsão de ser um dos mais insossos. Apenas alguns destaques: Como vais você, Falso amor; Lig-lig-Lé. Correndo por fora veio Mamãe eu Quero, maliciosa, com um refrão dos mais receptivos e estourou. Vicente Paiva lançou-a como balão de ensaio no Cassino da Urca onde era Diretor musical, mas até a composição conseguir chegar ao disco foi um sufoco. Ninguém se interessou. O Diretor da gravadora à qual estavam vinculados os autores não queria que Jararaca gravasse para o Carnaval para não queimar sua imagem de caipira-humorista. Vicente Paiva bateu o pé preparou a gravação, mas surgiram contratempos. Almirante, que participou do disco fazendo o papel da mão de Jararaca, sem mesmo se preocupar em adequar a voz, conta como foi: Na hora de gravar verificamos que a música era pequena, não tinha a duração exigida para o disco. Jararaca e eu completamos a música fazendo um diálogo improvisado na hora, sem nenhum interesse. O banjista, durante a gravação, errou um acorde, mas a música era considerada tão ruim que ninguém pensou em refaze-la. Eis o diálogo que abre a gravação original:
Jararaca: Mamãe eu quero
Almirante: Qué o quê, meu filho?
Jararaca: Mamãe eu quero ir pra avenida.
Almirante: Pra quê, meu filho?
Jararaca: Esse ano eu quero entrar nos cordões.
Almirante: Você vai é entrar na lenha, ouviu?
Jararaca: Ih, ?Mamãe está semiconflauta...
Mamãe eu quero;
Numa entrevista foi perguntado a Jararaca quem era o autor da composição. Respondeu: O autor? Quem é o autor? Não está nos jornais que sou eu? Vicente eu convidei para ser meu sócio. Fiz a idéia musical sozinho. Fica a dúvida no ar. Terá sido Vicente um parceiro fantasma? Acredito que não, pois já em 1935 havia namorado o tema, lançado a Marcha do Cordão do Bola Preta, que relançado em 1962 com algumas modificações foi sucesso na voz de Carmem Costa:
Quem não chora não mama
Segura meu bem a chupeta
Lugar quente é na cama
Ou então no Bola Preta
Jararaca declarou que se inspirou em si próprio: A idéia foi porque eu fui o menino mais mamão que apareceu. Mamei até os cinco anos de idade.
Bom voltando ao Mamãe Eu Quero; foi uma consagração e venceu até o concurso promovido pela Prefeitura naquele ano. Animada, a dupla voltou a se reunir e lançou em 1938 Cabra de Sutiã. Mas o fracasso foi total:
Tenho um casal de bode
Que vai sair amanhã
O bode de colete
A cabra de sutiã.
No carnaval de 1939 Silvino Neto e Plínio Bretas lançaram o Não te dou a chupeta, uma resposta, e obtiveram repercussão:
Já andas muito grande para implorar
Mamãe eu quero... eu quero...
Eu quero... Eu quero mamar...
O tema ficou latente até 1962 quando Felisberto Martins e Gomes Cardim compuseram Quem não Chora. Passou em brancas nuvens:
Quem não chora não mama
Por isso eu vou chorar
Vou chorar, vou gritar
Eu quero, quero, quero
Eu quero é mamar.
Trinta e quatro anos depois, Jararaca ainda tentava navegar na esteira do antigo êxito. Compõe para o Carnaval de 1971 o Mamãe não quero:
Mamãe, mamãe eu não quero
Eu não quero mais mamar
Mamãe, mamãe hoje eu quero, hoje eu quero
Hoje eu quero é me casar.
Na realidade pouquíssimas músicas brasileiras foram sucesso mundiais. Mamãe eu Quero, juntamente com Delicado, Aquarela do Brasil, Copacabana, Não tenho lágrimas, Na baixa do sapateiro, Garota de Ipanema (posso ter esquecido mais três ou quatro), faz parte desse rol famoso. Gravada por Bing Crosby, cantada em desenho do Tom e Jerry, única música que impressionou o rei do disco francês, Eddie Barclay, que a ouviu no Carnaval de 1976 e pensou em gravá-la, sucesso no Carnaval peruano e mexicano, continua, diante da anêmica música carnavalesca atual, cada vez mais forte. Eis a letra completa, que pouca gente sabe, pois sendo extensa o povo adotou o refrão e entra no lá, rá, rá, na hora de cantar o resto:
Mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar.
Dá a chupeta, dá a chupeta,
Dá a chupeta pro bebê não chorar.
Dorme filhinho
Do meu coração
Pega a mamadeira
E vem entrá pro meu cordão.
Eu tenho uma irmã
Que se chama Ana
De piscá o olho
Já ficou sem a pestana.
Olha as pequenas
Mas daquele jeito
Tenho muita pena
Não ser criança de peito
Eu tenho uma irmã
Que é fenomenal
Ela é da bossa
E o marido é um bossal.
O reconhecimento de sua mensagem de alegra porém não foi unânime. Tinha que aparecer algum estraga-prazer e Walter José, Jacinto Jr. e Mesquita contestaram com a marcha Tema Novo criada para o Carnaval de 80.

Maestro por favor.
Deixa de lero-lero.
Já estou de saco cheio
De cantar Mamãe eu Quero.
Música popular brasileira: a dívida com o índio

A perspectiva da emancipação do índio está causando polêmicas, enquanto ele continua em um tubo de ensaio, arriscado a ser submetido a experiências sociais macabras. Para a grande maioria dos brasileiros a imagem do nosso selvagem é enganadoramente cor-de-rosa, já que o imaginam levando um vidão, sem horário, sem patrão, sem lenço e sem documento. Os compositores populares, em destaque os carnavalescos, concorreram muito para que esse enfoque falso se popularizasse.
As composições retratam-no como um protagonista pitoresco: sagaz, sempre passando a perna nos outros, conquistador arrebatado e irresistível. Podemos dizer que o boom do indígena como tema começõu em 1961, quando dois excelentes compositores carnavalescos, Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, driblaram a censura, lançando a maliciosa marcha Índio quer apito aproveitando uma anedota em voga:
Ê, ê, ê
Índio quer apito
Se não der pau vai comer
Lá no Banretal mulher de branco
Levou pra índio colar esquisito
Índio viu presente mais bonito
Eu não quer colar
Índio quer apito.
Parece que o apito o decepcionou, como se vê em Índio agora quer casar, de 1971:
Índio não quer mais apito
Índio agora quer casar
Dá mulher pra índio
Para o índio se casar
Se não der mulher pra índio
Índio vai querer brigar.
Como reagiriam Peri e Ubirajara diante das insinuações contidas em Mais um Guerreiro, de Clóvis de Lima e Lord Chivas, para o Carnaval de 1973:
Índio não quer mais apito
Índio agora anda muito esqisito
Morde o dedinho
Bate com o pé.
O machismo é uma constante. Sou Tupiniquim, lançado em 1968 é um exemplo:
Eu sou tupiniquim
Não preciso de apito
Se o broto dizer não
Conquisto só no grito.
No Carnaval de 1971 Carmen Costa cantava Índio quer mulher, que aliás parece ser outra fixação dos nossos silvícolas:
Índio está com sede
Quer beber
Índio está com fome
Quer comer
Índio quer brincar
Índio quer pular
Índio quer mulher pra namorar
Se não me der
Mulher pra brincar
Índio pega flexa
Vai brigar.
Até na tribo quando o negócio é saia, há quebra de hierarquia:
Índio vai pedir
Pro cacique dar
Uma índia boa
Para ele se casar
o índio vai pedir
Cacique tem que dar
Se cacique não der
O pau vai quebrar.
(Oswaldo França, Carnaval de 1969).
A indigência das composições é a regra. Jair Silva e Pedro Saraiva conseguiram criar a insólita mistura que batizaram de Cacique na Onda, para os festejos de 1969:
Ê, ê, ê
O cacique mandou dizer
Índio não corta cabelo
Tá querendo yê, yê, yê
Gostei da onda
Lá tem mulher
É por isso que o índio quer.
Celso Mendes, no Carnaval de 1966, já prenunciava a emancipação:
Ô, ô, ô
Até o índio bossa nova já ficou
Não usa flecha
Não mata gavião
Não usa tanga
Tem até televisão.
Telegrama do Cacique é outra mostra de deslumbramento:
O cacique passou telegrama
Tum, tum, tum
A índia se mandou
O cacique deu alarme geral
Essa índia veio de Bananal
Tá tirando onde de carioca
Não quer mais saber de voltar pra maloça.
O Índio Cara de Pau, de Vicente Amar e Roberto Muniz parece que não se iludiu com o mundo dos caraíbas e volta às origens:
Índio cara de pau
Vai voltar pra Bananal
Terra de branco só tem fofoca
Índio vai voltar pra maloca
Vai voltar
É ordem do pajé
Terra de branco não dá mais pé.
A imagem de boa-vida é sempre lembrada, como em Índio do Xingu, dos talentosos Klécius Caldas e Rutinaldo:
Eu vou, eu vou
Pras mata do Xingu
Índio mora de graça
Índio come caça
Índio anda nu.
A fantasia dos autores atingiu o clímax no Carnaval de 66, desencadeando uma onde canibalismo:
Chegou a tribo de índio valente
De índio antropófago
Que come gente
Não vim pra brincar
Vim cumprir meu dever
O cacique mandou a gente comer
Essa gente comer.
(Castilho Jackson do Pandeiro, de Castro).
Vai começar o festim
Estou de flecha na mão
Mulher que não olha pra mim
Vai entrar no caldeirão.
(M. Ferreira e Gentil Jr.)
Ainda bem que Jorge Duarte e Arthur Montenegro tranqüilizam o país em Índio Moderno:
Não tenha medo
Minha tribo é diferente
índio tá moderno
Já não come gente.
Como vemos, a nossa Música Popular tem posto um biombo colorido à frente do problema do índio. Á exceção dos criadores carnavalescos, com sua abordagem quase caricata, totalmente distanciada da realidade, os compositores não se sensibilizam com sua luta pela auto-preservação. Algumas tímidas tentativas surgiram, como Martinho da Vila Tribo dos Carajás, onde diz:
E o índio cantou
O Seu canto de guerra
Não se escravizou
Mas está sumindo da face da terra.
Djavan também se manifesta:
Terra de índio
Nessa terra tudo dá
Não para o índio.
O conjunto de vanguarda Língua de Trapo não tem nada de alienado:
Xingú
Já trocou Iracema pela Lady Zu
E o tupi
Pelo I love you.
Chorando pela Natureza de João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro é um libelo:
As matas sumindo de nossa bandeira
O ouro cruzando as fronteiras do mar
O azul é só poeira
O branco em guerra está
E o nosso índio tombou
Pouca gente lutou
Pela sua defesa.
Jorge Ben, considerado um talentoso descompromissado pára para pensar e surge contundente:
Todo dia era dia de índio
E no entanto hoje seu canto triste
É o lamento de uma raça
Que já foi muito feliz
Pois antigamente
Todo dia era dia de índio.
Se a inconsciência persistir e a maioria continuar silenciosa, quando resolverem cantá-lo terão que compor um réquiem.
Fonte: www.renatovivacqua.com

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